Daniel Scola começou a coletiva de maneira descontraída, pedindo para se sentar, pois ainda se sente um pouco tímido frente a tantas câmeras e pessoas. À primeira vista, parece um pouco ansioso e com pressa. Com o passar dos primeiros minutos, faz uma breve apresentação e aparenta estar se adaptando a um ambiente que obviamente já lhe é conhecido.
Jornalista formado pela UFRGS, Scola é mestre em Jornalismo Internacional pela Universidade de Cardiff (País de Gales) e atua como repórter da RBS TV e da Rádio Gaúcha, em Porto Alegre. Suas coberturas tratam de temas que vão da política à cultura e, ultimamente, suas reportagens ligadas à gestão pública e à administração do Presídio Central tem ganho destaque na imprensa, rendendo a ele prêmios da Associação dos Magistrados do Brasil, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos e da Associação do Ministério Público.
Devido a seriedade de seus furos jornalísticos, Scola foi enviado pela Zero Hora ao Chile para fazer a cobertura do terremoto na região. “Cobri o caos no Chile sob sob o ponto de vista das famílias e do sofrimento pelo qual elas passaram”, comentou, lembrando que é essencial ao jornalista que seja discreto e que procure balancear a reportagem. “Não dá para tentar bancar o herói da história, exagerar, tentar exigir e explorar demais as pessoas. É preciso sempre focar no equilíbrio”, completou.
É comum ler ou ouvir entrevistas de Scola afirmando que “está sobrando jornalismo de CNPJ e faltando o jornalismo de CPF”. O que, a princípio, parece não fazer muito sentido é, na verdade, fácil de ser explicado: ele defende que o jornalismo alcançará uma melhor qualidade quando passar a envolver mais os aspectos sociais, de cada indivíduo, de cada vida que compõe o nosso redor. E o que presenciamos hoje seria um jornalismo empresarial em demasia, “que se importa com o diz-que-me-diz, com futilidades e informações desnecessárias, interesses pessoais, com o lucro acima de tudo”, concluiu.
A objetividade e a seriedade do trabalho de Scola são exemplos daquilo que deveria ser o essencial ao jornalismo de reportagem. A boa pauta envolve não apenas uma cobertura das eleições, mas, por exemplo, o que pode ser feito para que crianças de Viamão possam ir a escola todos os dias. É um jornalismo que está acontecendo ali na esquina. Muitas vezes o que as pessoas querem é ser ouvidas, ser amparadas, sentir que tem de fato uma voz. E o papel do jornalista, ainda que fortifique o clichê, é o de ser os olhos e ouvidos do povo. É preciso que se saia pra rua, pois o jornalismo é feito no chão.
Sobre sua série de reportagens envolvendo os problemas administrativos do Presídio Central, deixou claro que concorda que lugar de criminoso é na cadeia, mas não em uma cadeia que se encontra em condições de calamidade. “Mostrei a realidade do cárcere, quem domina, quem não domina, o que entra, o que as vezes nem sai de lá. É isso que temos que fazer enquanto jornalistas. Apuramos fatos, investigamos, denunciamos, somos críticos em relação à gestão pública. Não tem como alguém sobreviver naquelas condições”, relatou. Foi contundente quanto ao fato de uma matéria jamais valer uma vida. Por isso, finalizou: “Um presídio é um escritório do crime. É tudo pago por nós, nós sustentamos um lugar com wi-fi para os condenados, com notebooks, celulares, cerveja. Mas, ao expor o preso, tu corre o seriíssimo risco de ele desaparecer no outro dia, dependendo do que ele tiver dito. Então, prefiro não expor essa pessoa.”
Como algumas de suas coberturas mais marcantes, citou as duas últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos (a de Bush e a de Obama) e a eleição e posse de Fernando Lugo, presidente do Paraguai. Quando questionado sobre considerar-se um jornalista multimídia, Scola foi sucinto: “Me considero um jornalista”.
A coletiva foi encerrada pontualmente às 21h e durou uma hora, com mediação dos professores Andréia Mallmann e Juan Domingues.
Confira aqui uma galeria de fotos da coletiva.
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Grupo: Bruna de Souza, Carolina Petry, Mariana Melleu e Tábata Machado